segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Objectos com vida


Após quase 3meses, e muitos carros de substituição, e muitas memórias, e muitas saudades, a IS regressou das cinzas. No outro dia falava com a mãe do meu falecido padrinho, uma senhora que escreve, fala e vive com alma, e comentávamos o valor que alguns objectos ganham na nossa vida, ao ponto de os vermos quase como uma companhia, um amigo. Não tem nada a ver com materialismo, tem a ver com vivências, histórias e estórias nossas, que esses mesmos objectos guardam, ao ponto de personificarem sentimentos, recordações, vitórias, derrotas, aprendizagens, etapas.. vida!! E a vida que lhes damos faz com que estes assumam vida. Para a D. Salomé, a mãe do meu padrinho, seria impossível viver sem a velha cafeteira, onde faz o café todos os dias, há 50 anos. Para mim, entre outras coisas, é a IS. Pelas histórias que já vivemos juntas: seja aquele primeiro dia a conduzir sozinha com o coração a palpitar, seja pelo dia em que decidi morar sozinha e enfiei literalmente toda a minha vida naquela mala e fiz as mudanças sozinha (com a ajuda dela :D), ou seja naquele dia, daquele acidente aparatoso, em que chorei ao vê-la ir embora no reboque, pensando nunca mais vê-la. Quando, dias depois, já a imaginava em abate, ligaram-me e perguntaram-me se houvesse hipótese de a recuperar, se a queria. Como podia não querer? Não queria mais nenhum outro carro.. Ao recebe-la, hoje, 3meses volvidos após o acidente, chorei, sorri, e senti tudo aquilo que se sente quando se revê um velho amigo que esteve muito doente. Um objecto nunca na vida pode substituir uma pessoa, mas, tal como numa relação com qualquer pessoa, é inevitável associarmos, quer o objecto quer a pessoa, a todas as histórias que já vivemos com em conjunto. A cafeteira da D. Salomé acompanha-a há 50 anos. Quantos amigos terá ela a acompanhá-la há tanto tempo? As melhores coisas da vida não são coisas, mas o melhor que levamos desta vida são as nossas memórias e vivências, coisas essas (também) feitas das NOSSAS coisas. E enquanto o valor sentimental for o elo de ligação, qualquer objecto ganhará vida, e personificará muitos sentimentos que muitas pessoas nunca conseguirão personificar.